Nos últimos vinte anos, presenciamos a entrada de ferramentas robóticas na sala de cirurgia, com cada vez mais sofisticação e precisão. Essa tecnologia já revolucionou o tratamento de diversas enfermidades ao oferecer, por exemplo, visão ampliada e possibilidade de movimentos que garantem maior precisão aos procedimentos minimamente invasivos.
Apesar desse tipo de procedimento ser relativamente jovem em relação à cirurgia de maneira geral, a ideia de uma máquina realizar tarefas normalmente feitas por mãos humanas é bem mais antiga e está vinculada a momentos históricos importantes.
As motivações históricas para pensar e desenvolver a cirurgia robótica
A própria palavra “robô” foi cunhada em 1921 e vem do termo tcheco “robota”, que significa “trabalho”. Mais tarde, cerca de 60 anos atrás, começou a surgir a ideia de operar os soldados de guerra em locais mais próximos da área de combate, numa intervenção mais rápida. Infelizmente, são ambientes tão hostis que a assistência médica era precária.
A própria corrida espacial influenciou fortemente as ideias que temos hoje de telepresença e tele manipulação robotizada na cirurgia robótica. Afinal, era necessário manipular instrumentos no espaço, mais um ambiente inóspito para seres humanos. Com esse impulso para desenvolvimento de tecnologia nessa área, logo foram criadas a visualização 3D e um sistema de tele manipulação robótica para microcirurgia.
As primeiras plataformas robóticas utilizadas em humanos
Em 1985, um robô foi utilizado para realizar biópsias neurocirúrgicas em humanos, chamada de Programmable Universal Machine for Assembly 200 (PUMA). Mais tarde, essa mesma tecnologia foi adaptada e utilizada para procedimentos urológicos e de próstata.
Em 1992, o Robodoc Surgical System foi desenvolvido para manipular próteses de quadril e é, até hoje, o único sistema robótico liberado pela Food And Drug Administration (FDA) para cirurgia ortopédica.
Antes do sistema cirúrgico da Vinci, que é, hoje, amplamente utilizado em cirurgias gastrointestinais, urológicas, ginecológicas e em diversas outras especialidades, uma empresa chamada Computed Motion desenvolveu o AESOP, um braço robótico equipado com endoscópio, dando ao cirurgião uma “terceira mão” controlada por voz.
O objetivo desse robô era melhorar a estabilidade da imagem e reduzir a equipe médica necessária na sala de cirurgia. Logo, surgiu uma nova demanda: a tele manipulação dos movimentos do cirurgião para além da câmera de vídeo.
Como resultado, a mesma empresa desenvolveu o sistema Zeus, com braços e instrumentos cirúrgicos controlados pelo cirurgião, para ser utilizado em conjunto do AESOP. Ele foi utilizado pela primeira vez em 1998 numa cirurgia nas trompas e, três anos depois, a cirurgia robótica deu um grande e novo passo.
O Zeus foi utilizado com um sistema de telecolaboração chamado Socrates para realizar uma colecistectomia robótica à distância, em que o cirurgião, situado em Nova York, operou um paciente na França.
A cirurgia robótica que conhecemos hoje: sistema cirúrgico da Vinci
O sistema cirúrgico da Vinci, plataforma robótica de maior sucesso até agora, foi desenvolvido pela empresa norte-americana Intuitive Surgical, criada em 1995. Seu primeiro protótipo, Lenny, precedeu Mona, robô de segunda geração que realizou uma colecistectomia robótica, em 1997.
Somente em 1998 a empresa utilizaria o da Vinci em humanos e, dois anos depois, o robô foi aprovado pelo FDA, tornando-se o primeiro robô cirúrgico operatório nos Estados Unidos. Em 2003, a Computer Motion se fundiu à Intuitive Surgical, interrompendo o desenvolvimento do Zeus e combinando esforços para aprimorar a cirurgia robótica.
Desde então, outros protótipos foram desenvolvidos, como o sistema cirúrgico da Vinci S, que oferecia uma visão de câmera 3D de alta definição com configuração simplificada e tela de toque interativa.
Já o sistema da Vinci Si ofereceu o conceito de cirurgia de console duplo, em que o cirurgião proctor, mais experiente, consegue operar junto do cirurgião em treinamento. Além disso, ele traz uma atualização do sistema de imagem com fluorescência em tempo real. Em 2011, a plataforma passou por ajustes que permitiram o acesso por portal único, minimizando ainda mais o trauma cirúrgico para o paciente.
Até o momento, o sistema mais avançado da Intuitive Surgical é o da Vinci Xi, lançado em 2014. Esse robô é mais avançado em instrumentação, visão, design de carrinhos, movimentação de mesa e automatização de setup.
A história da cirurgia robótica ainda está sendo escrita
Com tantos eventos e melhorias nos sistemas cirúrgicos, acho está evidente que, apesar de jovem, a cirurgia robótica está sendo aprimorada há muitos anos e já se provou como segura e eficaz.
Ainda assim, mesmo com avanços tão rápidos e significativos, a história da cirurgia robótica ainda está longe de terminar. Vale ressaltar que apesar da Intuitive Surgical ser a grande protagonista, já que seu sistema é o mais utilizado em todo o mundo, diversas outras tecnologias parecem estar a caminho e ainda temos alguns obstáculos para superar.