O intestino grosso mede aproximadamente um metro e meio de comprimento e se organiza na cavidade abdominal de uma maneira em que é possível classificá-lo em cólon direito e esquerdo.
A ideia de que a localização do câncer de intestino pode fazer toda a diferença em aspectos biológicos, epidemiológicos, patológicos e prognósticos foi proposta em 1990.
Entretanto, desde então, muitos outros estudos compararam as características entre pacientes com tumores colorretais do lado direito e esquerdo, para avaliar o que poderia influenciar na sobrevida a longo prazo.
Os resultados, de maneira geral, mostraram que pacientes com câncer no cólon direito foram diagnosticados mais tarde e tinham tumores em estágio mais avançado no momento da cirurgia. A maioria dos estudos aponta para pior sobrevida quando o tumor primário está localizado do lado direito.
Um dos motivos para essa diferença seria a presença de sintomas mais brandos em pacientes com carcinoma à direita do que à esquerda. Enquanto tumores do lado direito do intestino costumam causar um sangramento que passa despercebido, os do lado esquerdo estão muito mais associados a alterações nos hábitos intestinais e até mesmo obstrução.
Como consequência, pacientes com câncer no cólon esquerdo tendem a procurar ajuda médica mais cedo e, portanto, receber o diagnóstico em fases mais iniciais do tumor.
Um outro fator é a taxa de sucesso da colonoscopia, que é mais elevada em neoplasias do lado esquerdo do que do lado direito, devido à dificuldade de acesso. Vale ressaltar, inclusive, que esse problema é mais comum entre idosos e mulheres.
Tudo isso não significa que um tumor do lado direito é necessariamente mais grave do aqueles do lado esquerdo, certo? Existem muitos outros fatores envolvidos e cada caso é único.
Localização do tumor também influencia no tratamento cirúrgico
Para além das diferenças relacionadas ao diagnóstico e prognóstico de tumores em localizações distintas, o tratamento cirúrgico também possui suas especificidades.
O objetivo da cirurgia será remover a parte do intestino afetada pelo tumor e, dependendo do estágio, também os linfonodos próximos e até outros órgãos da cavidade abdominal.
Para que o intestino continue funcionando após a remoção de parte do cólon, costuma ser necessário fazer um estoma, ou seja, uma abertura abdominal por onde projetamos o intestino.
Assim, o paciente não defeca pelo ânus, mas sim pelo estoma, diretamente numa bolsa coletora que deve ser utilizada o tempo todo, já que nessa abertura não há continência das fezes. Essa medida pode ser permanente ou temporária.
Acontece que a localização do tumor tem relação direta com a localização do estoma. Afinal, a abertura para saída das fezes deve ser feita com uma porção saudável do intestino, anterior à ressecada durante a cirurgia.
Então, se o paciente tem um tumor do lado esquerdo do cólon, provavelmente seu estoma será localizado na porção superior do abdômen ou do lado esquerdo, enquanto se o tumor do lado direito, o estoma também será feito do lado direito, na porção superior ou inferior do abdômen.
Uma outra diferença é que, caso o estoma seja feito do lado direito, as fezes provavelmente serão mais líquidas, já que os alimentos passaram por um processo mais curto de digestão.
Do lado esquerdo, o bolo fecal já passou por uma extensão um pouco maior do intestino, e vai se assemelhar um pouco mais com as fezes que costumam ser eliminadas pelo ânus.
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