Em diversos casos de doenças colorretais, como câncer ou colite ulcerativa, por exemplo, pode ser necessário remover todo o cólon e o reto do paciente. Depois do procedimento, será necessário estabelecer como será o trânsito intestinal do indivíduo e uma das opções é a realização de uma bolsa ileal em J, que possibilita a evacuação normal, através do ânus.
Neste artigo, vou explicar em quais casos essa técnica pode ser utilizada, como é feita e as possíveis complicações do procedimento.
Para quem a bolsa a ileal em J é indicada
O objetivo dessa cirurgia é permitir que o paciente evacue normalmente pelo ânus, além de ter controle sobre quando ir ao banheiro. Por esse motivo, é importante que o intestino delgado, ânus e esfíncter (músculo responsável pela continência fecal) e nervos pélvicos estejam em bom funcionamento.
Geralmente, a bolsa ileal em J é utilizada para tratar a retocolite ulcerativa, o câncer colorretal e a polipose adenomatosa familiar.
No caso da retocolite, a técnica costuma ser feita quando as medicações que ajudam a manter a doença em remissão não estão mais funcionando, sendo necessário remover a porção inflamada do intestino.
Quando o paciente tem câncer colorretal, a remoção do intestino grosso e do reto pode ser necessária para impedir a metástase da doença e uma recidiva. Naqueles com polipose adenomatosa familiar, doença causada por uma mutação genética que aumenta muito as chances de desenvolver tumores intestinais, a remoção é profilática.
Em todos esses casos, a bolsa ileal é uma boa alternativa para que o paciente não precise conviver com um estoma (abertura abdominal para liberação de gases e fezes).
O passo a passo do procedimento
A criação da bolsa ileal em J pode ser feita em uma, duas ou três cirurgias, dependendo do estado de saúdo do paciente. Como a técnica mais comum envolve dois procedimentos, vou explicar seguindo essa lógica.
Primeiramente, o cirurgião irá remover o intestino grosso e o reto do paciente. Com a porção final do intestino delgado, ele irá criar uma bolsa com o formato da letra “J”, e conectá- la à ponta do órgão, à parte de cima do canal anal. Isso irá permitir o controle da evacuação mas, como falei, é importante que os nervos pélvicos, ânus e esfíncter do paciente estejam intactos.
Para que essa região passe por um processo de cicatrização, na mesma cirurgia, o médico irá criar uma abertura na barriga do paciente, chamada ileostomia. Ela permite que os gases e fezes passem pela parede abdominal e sejam depositados numa bolsa de ostomia durante o período de recuperação da bolsa ileal.
Quando ela estiver saudável, o que costuma acontecer dentro de três a cinco meses, a ileostomia é fechada e o trânsito intestinal restabelecido numa segunda cirurgia. Dessa forma, o paciente poderá evacuar pelo ânus normalmente.
Atualmente, esse procedimento pode ser realizado de maneira minimamente invasiva, tanto por via laparoscópica quanto robótica.
Possíveis complicações da bolsa ileal em J
De maneira geral, pacientes que têm uma bolsa ileal J têm melhora na qualidade de vida. Um dos efeitos colaterais mais comuns é o aumento de evacuações diárias, podendo chegar a seis durante o dia e uma à noite.
Entretanto, é importante deixar claro que, assim como em toda cirurgia, existem riscos associados à bolsa ileal, como bloqueio da ileostomia, desidratação, diarreia, estreitamento da região entre a bolsa o ânus e infecção da bolsa ileal (bolsite).
A bolsite é uma das complicações mais comuns depois da bolsa ileal, e pode causar sintomas como diarreia, dor abdominal e nas articulações, febre e desidratação. Entretanto, o problema geralmente é resolvido com antibióticos.
Em situações raras, a bolsite não responde ao tratamento e, nesses casos, talvez seja necessário remover a bolsa e construir uma ileostomia permanente.
É importante ressaltar que apesar do risco de complicações, uma porcentagem muito pequena dos pacientes precisa remover a bolsa.
Se você está cogitando fazer a cirurgia, converse com seu médico e tire todas as suas dúvidas. Também é fácil encontrar, na internet, relatos de diversas pessoas que vivem há anos com a bolsa ileal, que podem oferecer uma perspectiva pessoal de prós e contras do procedimento. Se informar é sempre o melhor caminho!