O carcinoma anal de células escamosas é um tipo raro de câncer que corresponde a menos de 2,5% das doenças malignas do trato gastrointestinal. Na maioria dos casos, esse tipo de câncer anal está associado à infecção pelo HPV, vírus do papiloma humano, mas outros fatores de risco são histórico de displasia cervical, tabagismo e multiplicidade de parceiros sexuais.
O tratamento primário para essa doença é a quimiorradioterapia, que costuma oferecer remissão total do tumor. Entretanto, uma porcentagem dos pacientes diagnosticados com câncer anal que passaram por esse processo podem ter recidiva da doença.
Nesses casos, a ressecção cirúrgica da região afetada passa a ser a nova abordagem indicada e, quando o procedimento é feito depois de o tratamento primário falhar, damos o nome de cirurgia de resgate.
Como é a cirurgia de resgate para o tratamento do câncer anal
Historicamente, a ressecção abdominoperineal de resgate foi o tratamento padrão para o câncer anal, mas com o advento da quimiorradioterapia e suas taxas de sobrevivência de até 80% em 5 anos, a intervenção cirúrgica foi reservada para casos em que a terapia medicamentosa falhou.
Nessa intervenção cirúrgica, removemos o cólon e o reto inferior do paciente, criando uma colostomia permanente para eliminação das fezes. O objetivo é controlar o avanço local e a metástase do câncer. Então, o procedimento pode envolver, também, a remoção de órgãos e linfonodos adjacentes. Assim, é possível diminuir as chances de a doença voltar.
Nesse sentido, uma das questões às quais o cirurgião precisa estar atento nesse tipo de cirurgia é o que chamamos de margem positiva e margem negativa.
Quando as margens do tecido removido são negativas, quer dizer que não encontramos células cancerosas, o que aponta para menores chances de recidiva. Por isso, é fundamental que o paciente seja bem selecionado e que os exames de imagem pré-operatórios tenham sido bem feitos para orientar a cirurgia.
Isso porque margens positivas estão associadas com um prognóstico negativo para o paciente, ou seja, se as células tumorais estiverem presentes na beira no tecido removido, suas chances de cura são significativamente menores. Assim, nem sempre é possível preservar órgãos próximos, como o canal vaginal, por exemplo, que integra a região perineal juntamente do ânus.
Outros fatores que também influenciam na sobrevivência é o envolvimento dos linfonodos, a dose total de radiação utilizada durante o tratamento primário, a diferenciação do tumor, seu tamanho e a idade do paciente.
Resultados e morbidade da cirurgia de resgate para câncer anal
A realização de uma ressecção abdominoperineal em tecidos que, anteriormente, foram fortemente irradiados realmente oferece um risco significativo de morbidade pós-operatória.
Trata-se de um procedimento complexo e o índice de complicações locais é considerado alto, fator que pode estar relacionado à formação de fibrose após a radiação.
Entretanto, para diminuir essas complicações, diversas opções reconstrutivas estão sendo experimentadas para promover a recuperação da região perineal, com resultados muito interessantes.
Apesar dessas complicações, a cirurgia de resgate para câncer anal recorrente ainda está associada a taxas de sobrevivência acima dos 60%, se mantendo como uma abordagem de tratamento interessante.