As Doenças Inflamatórias Intestinais (DIIs) englobam um grupo de doenças crônicas que afetam o trato gastrointestinal, entre elas a Doença de Crohn e a Retocolite Ulcerativa.
Essas condições são caracterizadas pela inflamação persistente em diferentes partes do sistema digestivo, levando a sintomas como dor abdominal, diarréia, sangramento retal, e perda de peso.
A causa exata das DIIs ainda não é completamente entendida, mas acredita-se que envolva uma combinação de fatores genéticos, imunológicos e ambientais.
A Doença de Crohn
A Doença de Crohn é uma forma de DII que pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal, desde a boca até o ânus, embora seja mais comum no intestino delgado e no início do intestino grosso.
Esta doença é conhecida por sua inflamação transmural, que pode penetrar todas as camadas da parede intestinal.
Os pacientes podem experimentar períodos de exacerbação dos sintomas seguidos por períodos de remissão.
Quando a cirurgia é necessária?
Apesar dos avanços no tratamento médico da Doença de Crohn, cerca de 70% dos pacientes necessitam eventualmente de intervenção cirúrgica.
As complicações que frequentemente exigem intervenção cirúrgica incluem:
- a obstrução intestinal: pode ser causada pelo espessamento das paredes intestinais devido à inflamação crônica ou formação de tecido cicatricial;
- perfurações: buracos na parede intestinal que podem levar a infecções graves;
- abscessos: consiste no acúmulo de pus que podem causar dor intensa e febre e;
- fístulas: caracterizadas pela passagem anormal que podem se formar entre o intestino e outros órgãos.
Técnicas cirúrgicas
Várias técnicas cirúrgicas podem ser utilizadas para tratar a Doença de Crohn, dependendo da localização e gravidade da doença.
Entre as cirurgias mais comuns estão:
Ressecção intestinal
A ressecção de segmentos do intestino é uma das cirurgias mais comuns para a Doença de Crohn. Este procedimento envolve a remoção das áreas danificadas do intestino, seguido pela reconexão das partes saudáveis. Esta cirurgia pode aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Estenoplastia
Em casos onde há estreitamento do intestino, mas sem a necessidade de remover segmentos inteiros, a estenoplastia pode ser uma opção.
Este procedimento alarga as áreas estreitadas, permitindo uma passagem mais livre do conteúdo intestinal. É uma opção menos invasiva e pode ser repetida se necessário.
Drenagem de abscessos
Os abscessos são coleções de pus causadas por infecções e podem ser extremamente dolorosos.
A drenagem de abscessos, realizada por via percutânea ou aberta, é essencial para remover o pus e aliviar os sintomas.
Em alguns casos, pode ser necessário colocar drenos para prevenir a recorrência da infecção.
Correção de fístulas
Cerca de 10% a 15% dos pacientes com Doença de Crohn apresentam fístulas perianais como primeira manifestação da doença.
Essas fístulas são resultados de infecções que levam à formação de canais anormais ao redor do ânus.
A cirurgia é frequentemente necessária para controlar a infecção e facilitar o tratamento com medicamentos biológicos.
Elas são tratadas cirurgicamente para fechar as passagens anormais e prevenir infecções adicionais.
Este procedimento pode variar em complexidade dependendo da localização e extensão da fístula.
Processo pós-cirúrgico
Ao contrário do que muitos imaginam, a cirurgia para a Doença de Crohn não é necessariamente a última opção.
Em alguns casos, pode ser necessária no início do tratamento, especialmente em emergências ou quando há complicações severas.
A escolha do tratamento é influenciada pela localização da doença, o tempo de duração, a resposta a tratamentos prévios e o estado geral de saúde do paciente.
Importância do diagnóstico precoce
O diagnóstico precoce e o acompanhamento regular são fundamentais para a gestão eficaz da Doença de Crohn.
Consultas frequentes, geralmente a cada três a quatro meses, ajudam a monitorar a progressão da doença e ajustar o tratamento conforme necessário.
A introdução de novos medicamentos mais eficazes também tem contribuído para a redução da necessidade de cirurgias.
O papel do cirurgião coloproctologista
O tratamento cirúrgico da Doença de Crohn deve ser conduzido por um cirurgião especialista em doenças do intestino.
Este profissional tem o conhecimento e a experiência necessários para avaliar cada caso e determinar o melhor curso de ação.
A consulta com o cirurgião deve ser parte integrante do tratamento multidisciplinar.
Conclusão
A cirurgia tem um papel importante no tratamento da Doença de Crohn, proporcionando alívio dos sintomas, tratamento de complicações e melhora na qualidade de vida dos pacientes.
Embora não seja sempre a primeira linha de tratamento, a cirurgia é uma ferramenta importante no arsenal terapêutico contra essa doença complexa e desafiadora.
A colaboração entre médicos, cirurgiões e outros profissionais de saúde é essencial para garantir o melhor cuidado possível aos pacientes com Doença de Crohn.