A citorredução cirúrgica associada à quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (HIPEC) tem se destacado como um dos tratamentos mais eficazes para algumas neoplasias peritoneais.
Essas técnicas combinadas oferecem uma nova perspectiva no combate a tumores que afetam o peritônio, proporcionando maior sobrevida e melhor qualidade de vida para os pacientes.
O princípio básico da citorredução cirúrgica é remover o máximo possível de tumor visível, enquanto a HIPEC age diretamente sobre as células tumorais microscópicas remanescentes.
Seleção dos pacientes
Um dos pontos mais importantes para o sucesso do tratamento é a seleção rigorosa dos pacientes. Nem todos os portadores de neoplasias peritoneais são candidatos a esse procedimento.
Apenas pacientes que apresentam boas condições clínicas e nutricionais, além de uma avaliação cardiológica favorável, sem doenças associadas que possam aumentar o risco operatório, podem se beneficiar da citorredução com HIPEC.
Essa abordagem garante que os riscos sejam minimizados, proporcionando melhores chances de recuperação.
Além da avaliação clínica, outro critério analisado é a possibilidade de se realizar uma citorredução completa.
Isso significa que todo o tumor visível deve ser removido durante a cirurgia, pois apenas nesses casos a quimioterapia intraperitoneal hipertérmica será aplicada.
Neoplasias que podem ser tratadas com a citorredução com HIPEC
Diversas neoplasias peritoneais podem ser tratadas com a citorredução cirúrgica e a HIPEC, entre elas o câncer colorretal metastático, o pseudomixoma peritoneal, o mesotelioma peritoneal e alguns tipos de câncer de ovário.
Para cada uma dessas doenças, a abordagem tem se mostrado promissora, especialmente quando o diagnóstico é feito precocemente e a doença ainda se encontra limitada ao peritônio.
O câncer colorretal com metástase peritoneal, por exemplo, é uma das principais indicações para a citorredução com HIPEC.
Pacientes com esse tipo de metástase geralmente apresentam um prognóstico reservado, mas o tratamento combinado tem se mostrado capaz de prolongar significativamente a sobrevida.
O mesmo ocorre com o pseudomixoma peritoneal, uma condição rara, porém agressiva, onde o tratamento cirúrgico combinado à HIPEC é considerado o padrão-ouro.
Outro tipo de neoplasia que se beneficia dessa técnica é o mesotelioma peritoneal, um câncer que afeta o revestimento do abdômen.
Pacientes submetidos à citorredução e HIPEC para o tratamento do mesotelioma peritoneal também têm apresentado melhores taxas de sobrevida em comparação aos métodos tradicionais.
No caso de alguns tipos de câncer de ovário, especialmente aqueles em estágio avançado e com disseminação peritoneal, a HIPEC tem sido uma alternativa terapêutica com resultados promissores.
Como a HIPEC funciona?
Após a cirurgia, a cavidade abdominal é preenchida com uma solução de quimioterapia aquecida, entre 41°C e 43°C, temperatura considerada ideal, pois o calor ajuda a aumentar a eficácia da quimioterapia, danificando as células tumorais enquanto minimiza o impacto nos tecidos saudáveis, por um período de 60 a 90 minutos.
O calor potencializa o efeito dos medicamentos quimioterápicos, aumentando a sua penetração nas células cancerosas e, ao mesmo tempo, diminuindo os efeitos colaterais sistêmicos, uma vez que a quimioterapia é aplicada diretamente no local afetado.
Com a quimioterapia aplicada diretamente no abdômen do paciente logo após a remoção cirúrgica dos tumores visíveis, as chances de combater as micrometástases aumentam, melhorando a sobrevida do paciente livre da doença.
Sucesso do tratamento
É importante destacar que, para o sucesso do tratamento, o momento da intervenção cirúrgica faz total diferença.
A detecção precoce das neoplasias peritoneais permite que a citorredução e a HIPEC sejam aplicadas em uma fase onde o impacto no controle da doença é mais efetivo.
Por isso, o acompanhamento médico regular e a realização de exames diagnósticos periódicos são essenciais para a identificação de possíveis recidivas ou disseminações.
Embora a citorredução e a HIPEC representem um avanço significativo no tratamento de neoplasias peritoneais, é necessário que cada caso seja analisado individualmente.
O tratamento envolve uma equipe multidisciplinar, composta por oncologistas, cirurgiões, coloproctologistas, anestesistas e especialistas em cuidados intensivos, que avaliam cada paciente de forma criteriosa, garantindo a indicação correta e os melhores resultados possíveis.
Em suma, a citorredução cirúrgica com HIPEC oferece uma esperança renovada para pacientes com neoplasias peritoneais.
Apesar dos desafios associados a esse tipo de tratamento, os avanços técnicos e a seleção adequada dos pacientes têm permitido resultados cada vez mais animadores, destacando essa técnica como uma importante arma no combate ao câncer abdominal.