A causa exata das doenças inflamatórias intestinais ainda não é conhecida. O que sabemos é que diversos fatores parecem ter relação com o desenvolvimento da doença.
Ter um histórico familiar de DII, ser fumante, fazer uso de medicamentos antiinflamatórios não esteróides e manter uma dieta rica em gordura, açúcar e ultraprocessados parecem aumentar as chances de uma pessoa ter doença de Crohn ou retocolite ulcerativa.
Entretanto, de acordo com um estudo publicado no periódico Gastroenterology em fevereiro de 2021, a depressão também pode entrar para essa lista. Isso parece ocorrer porque os sintomas de depressão aumentam os riscos de desenvolver sintomas gastrointestinais e podem anteceder o desenvolvimento da doença inflamatória intestinal em até 9 anos.
Estudo utilizou dados de casos registrados ao longo de oito anos
O achado é fruto de um grande estudo de controle de caso envolvendo 13.681 casos de retocolite ulcerativa e 5874 casos de doença de Crohn, todos registrados entre janeiro de 1998 e maio de 2016. Esses casos foram comparados com grupos controle da mesma idade e sexo desses participantes.
Em casos cujos dados abrangiam pelo menos 5 anos, pacientes com depressão tiveram um risco aumentado de desenvolver retocolite ulcerativa, mas não doença de Crohn. Por outro lado, após levar em conta o uso de tabaco e o nível socioeconômico, não foi possível identificar a relação entre depressão e DII, exceto naquelas situações em que os sintomas gastrointestinais estavam presentes anteriormente.
Os pesquisadores também ampliaram a definição de depressão, o que permitiu uma associação a um diagnóstico de doença inflamatória intestinal, mas somente nesses pacientes que tiveram sintomas gastrointestinais prévios.
Sintomas intestinais e depressão estão associados ao desenvolvimento de doenças inflamatórias intestinais
O destaque fica, portanto, para o aumento na prevalência de depressão nos anos anteriores ao diagnóstico de DII, o que diverge da tendência da população geral. De acordo com os autores, isso apoia a teoria de que a depressão crônica é um fator de risco para a manifestação de sintomas gastrointestinais e está sim associada a um diagnóstico de doença inflamatória intestinal posteriormente.
Apesar de trazer achados interessantes, o estudo traz algumas limitações, como não incluir pacientes que procuraram tratamento psicológico. Existe, também, a chance de que esses pacientes possuam outros transtornos psicológicos e até mesmo outros problemas gastrointestinais.
De todo modo, trata-se de um estudo grande que trouxe evidências significativas de que a combinação entre depressão e sintomas intestinais pode aumentar os riscos de DII. Por esse motivo, vale nos atentarmos para oferecer aos pacientes um tratamento completo, tanto da questão psicológica quanto física.
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