Dr. Rodrigo Gomes

Estudo britânico analisa o impacto da pandemia na detecção do câncer colorretal

Um ano depois do início da pandemia da Covid-19, podemos começar a medir o impacto na saúde global causado não só pelo vírus em si, mas também pelo atraso e até não realização de procedimentos e cirurgias devido à orientação de distanciamento social. 

Embora essa medida tenha sido (e continua sendo!) fundamental na contenção dos níveis de contágio, protegendo principalmente as pessoas consideradas grupo de risco, é importante avaliarmos o impacto negativo do distanciamento em outros aspectos relacionados à saúde.

O Serviço Nacional de Saúde britânico sempre teve uma forte preocupação a respeito dos efeitos da pandemia no manejo da doença e resultados do tratamento de câncer, principalmente o colorretal. Afinal, o prognóstico é muito melhor em pacientes diagnosticados precocemente.

Entretanto, a grande maioria dos tratamentos e procedimentos utilizados no manejo e diagnóstico da doença foram muito afetados no Reino Unido: o Programa de Rastreamento de Câncer de Intestino foi pausado e as colonoscopias e exames de imagem do cólon ficaram restritos a situações emergenciais. 

Além disso, algumas mudanças foram feitas nos protocolos de cirurgia, radioterapia e quimioterapia, de maneira que muitos pacientes experienciaram um atraso tanto no diagnóstico quanto no tratamento do câncer colorretal. 

Rastreamento do câncer colorretal chegou a cair em 92% em 2020

Dados de diferentes instituições britânicas a respeito do câncer colorretal foram extraídos de 1º de janeiro de 2019 a 31 de outubro de 2020 para investigar as diferenças nos padrões de atendimento entre 2019 e 2020. 

Em comparação com a média mensal em 2019, em abril de 2020, houve uma redução em 63% no número mensal de encaminhamentos de pacientes com suspeita de câncer colorretal. Em relação a colonoscopias, a redução chegou a 92%.

Como resultado, houve uma redução de aproximadamente 22% no número de casos encaminhados para tratamento. 

Números preocupantes quando consideramos o quanto é importante diagnosticar e tratar o câncer colorretal o quanto antes para obter o melhor prognóstico. 

Com a retomada gradual das atividades, a taxa mensal de outubro de 2020 já havia retornado aos níveis de 2019, mas sem ultrapassá-la. Isso sugere que, no ano de 2020, no período de abril a outubro, mais de 3.500 pessoas a menos foram diagnosticadas e tratadas para câncer colorretal na Inglaterra do que seria esperado. 

Além disso, o número de cirurgias também caiu significativamente em abril do mesmo ano, até 31% a menos do que em 2019. Curiosamente, houve uma queda no número de procedimentos laparoscópicos e um aumento no número de ostomias em relação ao ano anterior. 

Em outubro, o número de procedimentos e de ostomias já estava normalizado, mas as análises sugerem que cerca de 600 estomias a mais do que o esperado foram realizadas. Em muitos desses casos, a medida é provisória e, provavelmente, utilizada para minimizar os riscos de contágio pela Covid-19. Contudo, o impacto na qualidade de vida também deve ser levado em consideração. 

Um outro dado notável é o leve aumento na proporção de cirurgias depois de uma admissão emergencial. Afinal, pacientes de urgência têm um prognóstico significativamente pior do que aqueles atendidos de maneira eletiva. 

Além disso, o aumento de casos emergenciais também pode ser um reflexo de atrasos no diagnóstico e tratamento da doença, o que pode ter causado uma mudança no estágio do tumor e piora no quadro do paciente. 

Para casos de câncer retal, aumentaram os números de radioterapia realizados em 2020, em comparação com 2019. Podemos atribuir esse fato ao maior uso de regimes de curta duração, como uma espécie de contenção antes da cirurgia, o que causa sim impactos significativos, já que esse tratamento está associado com maior morbidade em relação a cirurgia. 

Ainda não temos estudos desse tipo no Brasil e, portanto, é impossível dizer se esses dados britânicos se assemelham com a nossa realidade. Entretanto, com a orientação de manter o distanciamento social, muitas pessoas deixaram de procurar o médico diante de sintomas ou mesmo para realizar os exames anuais de rastreamento. 

Já aqueles que já foram diagnosticados com a doença também ficaram um tempo sem receber o tratamento cirúrgico adequado quando as operações eletivas foram pausadas, o que pode sim trazer consequências a longo prazo. 

Cabe a nós, médicos, observar cada caso e analisar os prós e os contras da exposição à Covid-19 em procedimentos eletivos para pacientes com câncer, que são considerados grupos de risco para a doença, tomando a melhor decisão em conjunto com o paciente.

E se você deixou de realizar os seus exames de rastreamento no ano passado por causa da pandemia, não deixe para depois e coloque todos em dia em 2021, certo? Os cuidados com a saúde não devem parar.  

Estudo britânico analisa o impacto da pandemia na detecção do câncer colorretal

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