Um novo estudo, realizado por pesquisadores do Dana-Farber Cancer Institute e publicado na revista Cancer Discovery, encontrou um vínculo entre uma assinatura de mutação genética indicativa de danos no DNA com o alto consumo de carne vermelha e o aumento da mortalidade relacionada ao câncer em pacientes com câncer colorretal.
Isso significa que, pela primeira vez, uma assinatura mutacional genética do câncer de intestino foi relacionada a um componente de dieta, o que ajuda a explicar os mecanismos pelos quais o consumo de carne vermelha contribui para o desenvolvimento e progressão desse tipo de tumor.
A assinatura encontrada era mais abundante no reto distal, envolvendo os genes KRAS e PIK3CA, estando associada a um prognóstico ruim. Nesse sentido, os resultados do estudo podem ajudar a identificar fatores de risco ainda mais específicos para o câncer colorretal, biomarcadores de diagnóstico ou apontar para oportunidades terapêuticas no futuro.
Todas as variações de carne vermelha foram associadas a danos genéticos no tecido do cólon
A carne vermelha é considerada um provável carcinogênico em humanos, e muitos estudos já apontavam que o consumo excessivo desse alimento poderia promover a formação de tumores intestinais. Entretanto, ainda faltava uma demonstração de que os padrões de mutações do câncer colorretal podem ser atribuídos à carne vermelha.
De acordo com a análise de DNA feita pela equipe, diversas assinaturas mutacionais foram encontradas em tecido normal e canceroso do intestino, inclusive uma forma de dano genético chamada de alquilação.
A assinatura alquilante foi significativamente associada ao consumo de carne vermelha processada e natural antes do diagnóstico de câncer. Entretanto, não foi encontrada associação dessa assinatura em específico com o consumo de aves, peixes ou qualquer outro aspecto de estilo de vida (como IMC, consumo de álcool e prática de atividade física).
Dano genético está associado a um risco maior de morrer de câncer colorretal
O estudo também encontrou uma ligação entre a assinatura alquilante e a sobrevivência do paciente, já que aqueles com tumores com maiores níveis de dano por alquilação tiveram 47% a mais de risco de morrer em função do câncer em relação a aqueles com índices menores de alquilação.
Nesse sentido, a descoberta pode pavimentar caminhos para oferecer oportunidades terapêuticas no futuro, porque a equipe médica é capaz de identificar essa assinatura genética em genes específicos (KAS e PIK3CA) por meio do rastreamento genético do paciente.
Potencialmente, isso abre a possibilidade de utilizá-la como um biomarcador de prognóstico e assim escolher estratégias de tratamento mais agressivas nesses casos específicos.
Além disso, se a equipe puder identificar pessoas que têm predisposição genética a acumular danos alquilantes, esses indivíduos poderão ser aconselhados a diminuir o consumo de carne vermelha e prevenir o desenvolvimento do câncer colorretal.
Outra possibilidade é utilizar a assinatura genética alquilante como um biomarcador para identificar pacientes com risco maior de desenvolver a doença, e assim implantar planos de rastreamento para detectar o câncer em estágios iniciais.
Para quem quiser ler o artigo na íntegra e entender melhor como o estudo foi realizado, basta acessar o site do Cancer Discovery.