Para restabelecer o fluxo das fezes depois de uma cirurgia de remoção de parte do intestino, pode ser interessante adotar uma técnica chamada bolsa ileal em J. Com esse procedimento, mesmo sem parte do órgão, o paciente conseguirá evacuar normalmente pelo ânus e ainda ter continência das fezes, se os nervos pélvicos estiverem intactos. Ela é muito utilizada em pacientes com retocolite ulcerativa.
Geralmente, a bolsa ileal em J é criada na mesma cirurgia em que removemos o intestino grosso do paciente, mas para que ela cicatrize, é necessário desviar a saída das fezes por um tempo, com uma ostomia temporária. Cerca de três a cinco meses depois, a bolsa estará cicatrizada, então poderemos fechar a ostomia e restabelecer a eliminação das fezes pelo ânus em uma nova cirurgia.
Apesar de oferecer a grande vantagem de o paciente não precisar utilizar uma bolsa coletora para o resto da vida, esse tipo de procedimento traz um tipo diferente de risco. Em aproximadamente 25% dos pacientes com uma bolsa ileal em J, a bolsa eventualmente infecciona ou se inflama dentro de um ano depois da cirurgia, caracterizando uma complicação chamada de bolsite.
O que é e quais os sintomas da bolsite
Até metade dos pacientes com bolsa ileal em J vão desenvolver bolsite em até dez anos depois do procedimento. Ainda não sabemos exatamente o que causa essa complicação, mas diversos fatores parecem estar envolvidos no desenvolvimento da bolsite.
Algumas delas são alterações na mucosa do intestino causadas pela cirurgia de remoção de parte do órgão, fatores genéticos, isquemia (interrupção do fluxo sanguíneo) pós-cirúrgica, alterações imunológicas, tabagismo e comorbidades como diabetes e cardiopatias. Pacientes com retocolite ulcerativa extensiva também podem apresentar inflamação na bolsa.
Os principais sintomas da bolsite são os seguintes:
- Aumento na frequência de evacuações
- Dor e espasmos ao evacuar
- Sangue nas fezes
- Incontinência fecal
- Idas ao banheiro durante a noite
- Dores abdominais
- Desconforto no abdômen inferior
- Diarreia
Em casos mais graves, o paciente também pode apresentar febre, desidratação, má nutrição, anemia, dor nas articulações e fadiga.
Diagnóstico e tratamento da bolsite
Geralmente, o médico já suspeita que o problema seja bolsite quando o paciente relata mudanças no hábito intestinal, dores ou sangue nas fezes. Afinal, essa é mesmo uma complicação comum da bolsa ileal em J.
Entretanto, é necessário ter certeza de que não existem outras condições responsáveis pelos sintomas como uma infecção intestinal ou mesmo doença de Crohn, por exemplo. Para isso, ele irá solicitar uma série de exames.
O principal deles é uma endoscopia, que possibilitará a visualização do interior da bolsa. Por meio desse exame, conseguimos verificar a extensão e o tipo da inflamação. Durante o procedimento, podemos colher uma pequena amostra do tecido para averiguar outros tipos de problemas, como infecções ou isquemia.
Tomografias e ressonâncias magnéticas também podem ser grandes aliadas do diagnóstico, e um hemograma completo pode ajudar a avaliar o impacto da bolsite na saúde como um todo.
A partir dos resultados, é possível confirmar a bolsite e iniciar o tratamento, que costuma ser feito, a princípio, com antibióticos. Na grande maioria dos casos, esse tipo de medicação é muito bem sucedida em controlar a infecção.
Entretanto, em muitos pacientes a bolsite pode estar sendo causada por fatores não tão óbvios. Nessa situação, as possibilidades de tratamento costumam combinar antibióticos com corticóides, medicamentos imunossupressores ou agentes biológicos.
Em casos mais raros, a bolsite se torna crônica, e adaptações na dieta como reduzir o consumo de fibra costumam ajudar a controlar a inflamação.
E há, ainda, aqueles pacientes em que a terapia medicamentosa não funciona, o que em conjunto de um estado de saúde mais debilitado pode tornar inevitável a remoção da bolsa e a realização de uma ostomia permanente.
Apesar dessa complicação, a bolsa ileal em J ainda é uma importante técnica na coloproctologia e apresenta inúmeras vantagens. Conhecer os riscos associados a esse procedimento é fundamental para qualquer pessoa que pretende realizá-lo.
Se você tiver alguma dúvida sobre a bolsite ou outras complicações da cirurgia de remoção do intestino, pode deixar aqui nos comentários!