Nos últimos anos, o campo de estudo do câncer colorretal apresentou avanços significativos principalmente no que diz respeito ao uso de derivados do paciente e estratificação molecular de tumores, que ajudam a prever a resposta ao tratamento.
É como se utilizássemos fragmentos do tecido doente do paciente ou suas informações genéticas para testar, em laboratório, como o câncer reagiria a diferentes tipos de medicação, o que aumentaria a eficácia do tratamento.
Outros destaques são os novos e aprimorados modelos de câncer colorretal metastático em camundongos, que podem ser utilizados para diminuir riscos em ensaios clínicos realizados em humanos com tumores avançados.
Esses avanços técnicos podem levar à descoberta de novos conceitos de tratamento e fazer toda a diferença para as milhões de pessoas diagnosticadas com a doença a cada ano.
Câncer colorretal in vitro ajuda a guiar tratamentos
A cultura de células vem sendo utilizada há muitos anos para descobrir os principais aspectos funcionais da biologia dos tumores colorretais. Entretanto, esses tecidos apresentavam, de maneira geral, uma complexidade reduzida em relação a tumores de pacientes reais.
A partir da identificação do marcador genético da célula-tronco responsável pela gênese do intestino foi possível desenvolver organóides intestinais de camundongos, ou seja, estruturas tridimensionais muito semelhantes ao tecido original.
Com o tempo, organóides humanos também foram desenvolvidos, inclusive os tumorais. Essas estruturas puderam ser utilizadas para prever a resposta do paciente a determinados tipos de tratamento e, atualmente, estão sendo incorporados a ensaios clínicos para ajudar a orientar tomadas de decisão e reduzir riscos.
Uma das limitações das culturas de organóides é que não estão inseridas num microambiente tumoral, que tem componentes e parâmetros fisiológicos específicos. Por mais que os pesquisadores tenham trabalhado para superar esse desafio, a cultura dos organóides não poderá replicar as exatas condições do desenvolvimento de um tumor.
Medicina estratificada refina tratamentos
Um dos desafios no tratamento do câncer colorretal é identificar tumores responsivos daqueles que não reagem bem ao tratamento, ou diferenciar os pacientes que possuem mais chances de recidiva da doença.
Uma forma de refinar o tratamento do câncer seria identificar as características moleculares que levam a resistência à quimioterapia, por exemplo, para realizar o tratamento mais adequado para cada paciente.
Para isso, diversos estudos utilizaram perfis transcricionais genéticos de tumores inteiros para classificar pacientes e identificar a heterogeneidade inter paciente, identificando 3 a 6 subtipos com características moleculares e vias de ativação distintas.
Cada uma dessas classificações oferecem a oportunidade de tratar os pacientes de acordo com seu subtipo. Inclusive, diversos ensaios clínicos estão incorporando esse sistema de classificação e têm obtido respostas específicas.
Um dos desafios da classificação de tumores é seu caráter demorado e de alto custo, de maneira que os pesquisadores estão prevendo o uso de uma tecnologia de imagem baseada em algoritmo para detectar os subtipos de maneira automática, tendo como referência as características morfológicas dos tumores. Essa medida poderia ampliar significativamente o uso do sistema de classificação.
Modelos in vivo de câncer colorretal
Os modelos de organoides de camundongos oferecem limitações. Para superar esses obstáculos, pesquisadores aprimoraram, recentemente, os modelos geneticamente modificados de roedores e o transplante de organóides para recapitular a progressão do câncer colorretal em humanos.
Um dos desafios encontrados com os modelos anteriores era a baixa penetrância de metástase para órgãos distantes: quando os camundongos desenvolveram tumores metastáticos, a taxa era de menos de 25%, impedindo investigações pré-clínicas.
A solução encontrada foi desenvolver modelos de câncer colorretal a partir de mutações genéticas com alto nível de penetrância para metástase e outros recursos que foram capazes de recapitular as características de tumores humanos, podendo ser classificados de acordo com suas características moleculares e vias de ativação.
O tema é complexo e é um ponto de partida para aprimoramentos reais num futuro muito próximo. Mais detalhes a respeito desses avanços podem ser conferidos no artigo publicado no começo deste ano no periódico Current Opinion in Genetics & Development.