Ter uma doença inflamatória intestinal crônica como a doença de Crohn ou retocolite ulcerativa pode afetar significativamente a qualidade de vida do paciente. Um tratamento adequado, com equipe multidisciplinar, é fundamental, pois assim o portador da DII poderá realizar suas atividades cotidianas com mais leveza e tranquilidade. Muitas vezes, isso só será possível com uma cirurgia.
Doenças inflamatórias intestinais não têm cura
As doenças inflamatórias intestinais não têm cura. Isso significa que o tratamento terá como objetivo suprimir a resposta inflamatória alterada do organismo e permitir a cicatrização do tecido gastrointestinal lesado.
Tanto a retocolite ulcerativa quanto a doença de Crohn são autoimunes, ou seja, o corpo identifica a si mesmo como uma ameaça, atacando as células do intestino e causando inflamações no trato intestinal. Na prática, o paciente poderá ter diarreia, dor abdominal, sangramentos, febre, fadiga e emagrecimento.
Tratamento medicamentoso
A primeira opção terapêutica costuma ser o tratamento com medicação. Mesmo que os fármacos não possam curar a doença, eles são capazes de trazer um estado de remissão, em que os sintomas ficarão ausentes ou mais brandos.
Esses períodos de remissão podem durar meses e até mesmo anos, dependendo de ajustes na dosagem ou no tipo de medicação para manter a doença sob controle. Podem ser utilizados corticoides, imunomoduladores, agentes biológicos, antibióticos e probióticos, por exemplo.
Quando a cirurgia é urgente
Algumas situações de urgência podem demandar uma intervenção cirúrgica imediata. Algumas delas são:
- Retocolite ulcerativa súbita e grave: 15% das pessoas com retocolite ulcerativa têm uma crise tão grave que não pode ser controlada com medicamentos, mesmo por via intravenosa. Sem tratamento, essa crise pode levar à complicações graves como hemorragias e acelerado aumento do cólon.
- Perfuração do cólon: Uma inflamação crônica pode enfraquecer a parede intestinal a ponto de causar uma abertura, por onde as fezes escapam para a cavidade abdominal. Isso pode causar uma infecção grave.
- Obstrução intestinal: A inflamação pode levar ao espessamento das paredes intestinais, ou mesmo formar uma cicatriz, estreitando o tubo digestivo e impedindo a saída das fezes.
- Fístula: Feridas no trato intestinal, especialmente próximas ao ânus, podem formar um túnel para outra parte parte do intestino ou mesmo para outro órgão, como a bexiga ou a vagina, caracterizando uma fístula. O tratamento da fístula requer uma ou várias cirurgias para drenagem da secreção e eliminação do trajeto, impedindo uma recidiva.
Quando a cirurgia é opcional
Até 45% das pessoas com retocolite ulcerativa e até 75% dos pacientes com doença de Crohn eventualmente irão fazer uma cirurgia. Felizmente, com o diagnóstico cada vez mais precoce das DIIs, associado à um seguimento clínico rigoroso e periódico, além da chegada de novos medicamentos no mercado, têm reduzido o número de cirurgias.
Ainda assim, há casos de pessoas que não querem ou não suportam mais lidar com os sintomas da doença inflamatória intestinal e decidem fazer uma cirurgia.
Quando o paciente não responde mais à medicação, permanecendo em crises consecutivas que podem prejudicar seu trabalho, relacionamentos e vida social, a cirurgia também poderá ser uma opção.
Não se sabe porque, mas os fármacos podem não ser eficazes para todos os pacientes o tempo todo. Às vezes, podem ajudar o paciente por anos, mantendo a doença em remissão, até que um dia o organismo pára de responder à medicação.
É importante lembrar, também, que os remédios têm efeitos colaterais, que também podem afetar significativamente a qualidade de vida do paciente, fazendo do tratamento cirúrgico uma opção mais viável.
Um outro motivo para o paciente optar por fazer uma cirurgia para doença inflamatória intestinal é eliminar os riscos de câncer colorretal, já que tanto a colite ulcerativa quanto a doença de Crohn aumentam significativamente o risco de desenvolver essa neoplasia, em relação à população geral.
Esse risco aumenta progressivamente quanto mais a pessoa vive com a doença, então raramente irá ocorrer nos primeiros 8 a 10 anos com a doença. Muitas vezes os pacientes com DII não irão desenvolver pólipos, que são, geralmente, precursores de um tumor colorretal. Em vez disso, um tecido anormal chamado displasia pode se formar na mucosa intestinal.
Por esse motivo é recomendado que pessoas que convivem com a doença inflamatória intestinal há mais de 8 a 10 anos façam uma colonoscopia de vigilância bianuais (ou com maior frequência, caso tenha histórico familiar de câncer colorretal, por exemplo). Caso o exame revele a presença de uma displasia, a cirurgia será recomendada para prevenir o desenvolvimento do tumor.