Dr. Rodrigo Gomes

Saúde intestinal depois da bariátrica: o que você precisa saber

As cirurgias utilizadas para ajudar um paciente a perder peso por razões médicas são consideradas seguras e trazem uma série de benefícios para a saúde a longo prazo. 

Entretanto, como esses procedimentos costumam reduzir drasticamente o volume do estômago e, consequentemente, a quantidade de alimento ingerido, alguns efeitos colaterais podem ser esperados no funcionamento intestinal. 

Ressalto, também, que a obesidade em si, já está atrelada ao desenvolvimento de uma série de problemas intestinais, sendo a diarreia o mais prevalente. Além disso, o excesso de peso está relacionado ao desenvolvimento de diversos tipos de câncer, entre eles o colorretal. 

Constipação pode ser um efeito colateral da bariátrica

Um estudo publicado em 2016 no periódico Obesity Surgery analisou os efeitos de procedimentos bariátricos nos hábitos intestinais e os resultados apontaram a constipação como um problema prevalente depois da cirurgia.

Seis meses depois da bariátrica, mais de um quarto dos participantes foram afetados pela constipação, com uma queda de aproximadamente 33% na frequência de evacuação. Além disso, as fezes se tornaram mais firmes, o que sugere lentidão no trânsito intestinal após o procedimento.

Como os participantes também registraram suas escolhas alimentares, foi possível associar uma diminuição no consumo de fibra à constipação. Somente 15% desses pacientes seguiram as orientações médicas de consumo de fibra depois da bariátrica, o que pode ser atribuído às pequenas porções de comida, que nem sempre têm as quantidades adequadas desse micronutriente. 

Entretanto, outros estudos que envolvem a remoção de uma porção maior do estômago encontraram resultados diferentes, como maior frequência de evacuação e diarreia em alguns pacientes. Isso indica que a técnica cirúrgica utilizada pode implicar em diferentes efeitos da bariátrica no funcionamento intestinal. 

Câncer colorretal depois da bariátrica

Dois estudos publicados em 2020 trouxeram conclusões opostas em relação à incidência de câncer colorretal depois da cirurgia bariátrica. 

O primeiro, publicado no International Journal of Cancer, o risco de câncer de cólon pode ser maior entre pacientes que passaram por esse procedimento. A partir de dados de pacientes acima dos 18 anos, diagnosticados com obesidade e que passaram pela bariátrica em 1980 e 2015, os pesquisadores chegaram a uma conclusão interessante:

Em relação à população geral, os pacientes que fizeram a bariátrica tinham até duas vezes mais riscos de ter câncer de intestino por pelo menos dez anos de acompanhamento. 

Já um estudo francês, publicado no periódico Jama Surgery, encontrou uma associação entre a redução do risco de desenvolver a doença depois da bariátrica. As conclusões foram possíveis após análise de dados coletados entre 2009 e 2018, de mais de um milhão de pessoas com obesidade entre os 50 e 75 anos. 

Dessa população, a taxa de câncer colorretal entre pessoas que passaram pela cirurgia foi menor do que entre aquelas que não se submeteram à bariátrica. Entretanto, a quantidade de pólipos não cancerosos foi maior entre os pacientes que não operaram. 

Devido a esses resultados conflitantes, foi realizado um outro estudo de longo prazo, publicado em 2021 na revista Plos One. Essa pesquisa analisou dados do Swedish Obese Themes (SOS), com acompanhamento médio dos mais de 4 mil pacientes, em 22 anos.

O estudo trouxe, inclusive, algumas hipóteses que poderiam explicar resultados tão diferentes nos estudos anteriores, como as diferenças de idade entre os pacientes participantes, técnicas cirúrgicas diversificadas e até mesmo a escolha do método estatístico ou o período de acompanhamento. 

Curiosamente, esse novo estudo não foi capaz de verificar  se a cirurgia bariátrica está associada a alterações no risco de câncer colorretal entre pacientes com obesidade. Entretanto, foi possível identificar uma redução no risco de câncer retal depois da cirurgia. 

O que todos esses resultados nos sugerem é que a decisão de operar deve ser sempre individualizada e realizada de maneira conjunta com o médico responsável pelo acompanhamento do paciente. 

Acredito que temos evidências suficientes de que a manutenção do peso saudável traz inúmeros benefícios, enquanto a obesidade está associada a mudanças metabólicas e sistêmicas que aumentam os riscos de desenvolver não só o câncer colorretal, como uma série de enfermidades.

VEJA MAIS

Conheça as possibilidades de rastreamento do câncer colorretal

Metanálise confirma o papel da alimentação no desenvolvimento e prevenção do câncer de intestino

Saúde intestinal depois da bariátrica: o que você precisa saber

Agende sua Consulta Presencial ou Online

Não espere. Agende sua consulta hoje mesmo e dê o primeiro passo em direção à sua jornada de cura e recuperação. Nossa equipe está aqui para apoiá-lo em cada etapa do caminho.