A Síndrome de Lynch é causada por uma mutação genética causadora de uma série de tumores que afetam, principalmente, o trato gastrointestinal. Entretanto, em mulheres, essa Síndrome também está associada a um risco aumentado de desenvolver câncer de útero e ovários, impactando-as significativamente quando o assunto é saúde reprodutiva.
As mutações são autossômicas dominantes, ou seja, têm 50% de chance de serem transmitidas de pais para filhos. Além disso, ocorrem nos genes MLH1, MSH2, MSH6, PMS1 ou PMS2, responsáveis por reparar falhas genéticas. Sem o funcionamento adequado desses genes, o paciente perde uma importante proteção natural do corpo e fica vulnerável ao desenvolvimento de uma série de tumores.
No caso do câncer colorretal, sugerimos que o paciente com suspeita ou diagnóstico de Síndrome de Lynch comece a realizar colonoscopias periódicas a partir dos 20 anos de idade. Caso um tumor seja diagnosticado, é indicado remover a porção afetada e, dependendo do caso, até mesmo o cólon como um todo.
Mulheres com Síndrome de Lynch têm até 60% de chance de ter câncer de endométrio
Para além das grandes chances de desenvolver câncer colorretal logo no começo da vida adulta, mulheres com Síndrome de Lynch têm risco elevado de desenvolver tumores ginecológicos. Trata-se de um risco vitalício de 40 a 60% para câncer endometrial e um risco vitalício de 10 a 12% de câncer de ovário, em comparação com os riscos da população geral de cerca de 3% e 1,4%, respectivamente
Nesse sentido, existem duas maneiras pelas quais as mulheres com Síndrome de Lynch podem gerenciar o risco de desenvolver tumores ginecológicos: realizar exames de rastreamento, em vigilância intensa, ou remover o útero e ovários numa cirurgia chamada histerectomia total com ooforectomia.
Os principais exames de rastreamento que podem ser realizados anualmente são a ultrassonografia transvaginal, exames de sangue com marcador tumoral CA125 e biópsia endometrial. Entretanto, há controvérsias se essa vigilância é mesmo eficaz para reduzir o risco dessas pacientes desenvolverem tumores.
Optando pela cirurgia para lidar com os riscos de câncer na Síndrome de Lynch
A cirurgia de remoção de útero e ovários traz implicações sérias para as mulheres, principalmente se levarmos em consideração o fato de que os tumores costumam se desenvolver quando a paciente ainda está em idade reprodutiva. Isso significa que, para muitas, passar por esse procedimento pode anular as suas chances de ter filhos biológicos.
Por outro lado, caso a paciente seja diagnosticada com o tumor, ela precisará passar pelo tratamento que pode ou não envolver cirurgia, mas que sempre coloca a fertilidade em risco.
De maneira geral, recomendamos para pacientes que já tiveram filhos realizar a cirurgia de remoção de ovários e útero assim que possível. Entretanto, muitas pacientes preferem não esperar a gravidez para tomar essa decisão e preferem realizar o procedimento assim que possível.
Muitos estudos sugerem que diversos fatores são determinantes na hora de optar pela sua cirurgia: idade da paciente, se ela teve filhos ou não, os resultados de exames recentes e o nível de ansiedade em relação à possibilidade de ter câncer.
Sem dúvidas, remover esses órgãos oferece uma grande vantagem em relação à diminuição do risco de câncer, mas a paciente precisa, também, estar muito informada do fato de que o procedimento implica, necessariamente, na instauração de uma menopausa precoce.
Para além de não poder ter filhos biológicos sem o auxílio da reprodução humana assistida, a menopausa precoce traz impactos para a qualidade de vida da paciente, especialmente na sua sexualidade.
Ou seja, o tratamento de pacientes do sexo feminino portadoras de Síndrome de Lynch deve ser individualizado e multidisciplinar, envolvendo sempre o aconselhamento genético sempre que possível. Contar com uma equipe especializada ajudará a mulher a tomar uma decisão informada, seja a de manter a vigilância contra o câncer ou a de realizar uma cirurgia profilática.