Um amplo estudo divulgado em fevereiro deste ano apontou que o uso regular de aspirina, a longo prazo, está associado a uma redução na mortalidade por câncer colorretal. Esses resultados são mais evidentes principalmente quando o medicamento é utilizado antes do diagnóstico da doença, com possível inibição da metástase do tumor.
A pesquisa foi publicada no Journal of the National Cancer Institute e partiu da realização de um estudo menor, publicado em 2020, que sugeria exatamente o contrário: um aumento na mortalidade por câncer colorretal com o uso da aspirina, por meio de uma aceleração no crescimento do tumor em indivíduos idosos com tumores estágio III e IV. Essa evidência sugeriu a necessidade de mais cautela na prescrição do medicamento para pacientes mais velhos.
Portanto, os pesquisadores também buscaram ajudar os profissionais de saúde e pacientes a tomarem decisões que poderiam beneficiar o prognóstico entre sobreviventes por cerca de uma década. Assim, a equipe médica e os pacientes poderiam tomar decisões mais acertadas em relação à profilaxia e tratamento da doença.
Estudo sustenta a hipótese de que o medicamento é capaz de inibir a metástase
A análise incluiu mais de 4 mil adultos que não tinham câncer de intestino no início do estudo, em 1992 ou 1993. Ao final do acompanhamento, em 2015, eles foram diagnosticados com câncer colorretal, por volta dos 73 anos de idade.
Desse grupo, 2.686 pessoas utilizaram a aspirina antes do diagnóstico e 1.231 utilizaram o medicamento depois do diagnóstico. No geral, mais pacientes do primeiro grupo morreram menos em decorrência do câncer de intestino do que no segundo grupo.
Portanto, os resultados do estudo demonstraram que o uso regular da aspirina, a longo prazo (com pelo menos 15 doses por mês), antes do diagnóstico está associado à redução da mortalidade específica por câncer colorretal.
Entretanto, as estatísticas não foram significativas a respeito das evidências de que a medicação poderia reduzir a mortalidade quando utilizada após o diagnóstico. Ainda assim, esses pacientes que utilizaram a aspirina depois da detecção do câncer tiveram menor risco de morte do que aqueles que não utilizaram o medicamento em qualquer período.
Outro dado interessante é que o uso da aspirina antes do diagnóstico também esteve associado à uma menor probabilidade de metástase à distância, o que poderia explicar a mortalidade mais baixa.
De qualquer forma, ainda temos alguns estudos clínicos randomizados a serem concluídos nos próximos três anos que oferecerão mais informações sobre a relação entre a aspirina e a sobrevivência do câncer colorretal.
Aspirina também costuma ser utilizada para prevenir o câncer em pacientes com Síndrome de Lynch
A aspirina já vem sendo investigada como uma aliada contra o câncer colorretal há muito tempo, e já temos evidências sólidas que apoiam o uso do medicamento na prevenção da doença em pacientes com Síndrome de Lynch.
Trata-se de uma síndrome causada por uma mutação autossômica dominante hereditária, ou seja, cada portador tem 50% de chance de transmitir o gene defeituoso para cada filho.
Os portadores dessa mutação têm um risco aumentado de desenvolver, principalmente, câncer colorretal, mas também tumores no intestino delgado, endométrio, estômago, ovários, vias urinárias e mama.
Um estudo também recente, o CAPP2, publicado em 2020, reuniu evidências acumuladas ao longo de 30 anos, reafirmando que o uso de aspirina nesses pacientes reduziu muito as chances de ter a doença.
Assim como outros estudos, ele também não foi capaz de determinar o mecanismo pelo qual a aspirina foi capaz de diminuir os riscos de ter câncer colorretal, mas mantém uma máxima importante: quando prescrita pelo médico, a medicação não prejudica o prognóstico dos pacientes.
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