O verde de indocianina é um corante capaz de absorver e emitir luz, muito utilizado em exames médicos. Sempre que possível, eu mesmo a utilizo em minhas cirurgias. Depois de injetada na veia do paciente, essa substância fica visível nos vasos sanguíneos em sistemas de imagem em infravermelho, como as utilizadas na cirurgia robótica ou laparoscopia, por exemplo.
Um dos mais recentes e interessantes usos do verde de indocianina é na realização de anastomoses colorretais. Esse procedimento consiste na união de duas partes do intestino depois da retirada da parte doente ou comprometida, restabelecendo, assim, o fluxo natural das fezes.
Um dos desafios nesse tipo de cirurgia é a incidência de vazamentos, que pode chegar a até 11,9% em todos os casos. Como consequência, muitos pacientes acabam precisando passar por mais uma cirurgia com o objetivo de criar um estoma, o que além de comprometer a qualidade de vida do paciente, resulta em mais tempo no hospital e maiores taxas de mortalidade.
Inclusive, vale ressaltar que em pacientes oncológicos, o vazamento anastomótico está associado ao aumento da recorrência local e redução da sobrevida geral, sobrevida específica do câncer e sobrevida livre da doença.
Verde de indocianina ajuda a tornar a anastomose mais segura
Nesse sentido, o verde de indocianina é uma das muitas tecnologias utilizadas para reduzir o risco de vazamento. Durante a cirurgia, o sistema de imagem em infravermelho permite uma avaliação do fluxo de sangue em direção à anastomose, possibilitando ao cirurgião tomar melhores decisões nesse momento crítico do procedimento.
Especialmente no caso de pacientes com câncer retal e anastomose baixa, com maiores riscos de vazamentos na anastomose, o uso do verde de indocianina é muito vantajoso, já que muitos estudos apontam que a técnica está associada a uma redução nos vazamentos nesses casos específicos.
Entendendo a tecnologia e sua aplicação
Essa substância era utilizada, inicialmente, na fotografia. Seu primeiro uso na medicina é datado na década de 1950, para ajudar a medir a função hepática e cardíaca. Desde então, o verde de indocianina passou a ser mais utilizado por oferecer taxas muito pequenas de efeitos colaterais e efetividade em exames de imagem.
Em cirurgias viscerais, essa molécula fluorescente passou a ser utilizada com o advento das técnicas minimamente invasivas, já que seu efeito pode ser difícil de avaliar a olho nu. A partir daí, diversas especialidades médicas passaram a utilizá-la, como ginecologia, urologia e coloproctologia.
No sistema Cirúrgico Da Vinci, a câmera infravermelha capaz de identificar o corante do verde de indocianina foi integrada em 2010, oferecendo imagens em tempo real das estruturas fluorescentes (tecnologia batizada de Firefly pela Intuitive Surgical).
Sem dúvidas, a adoção dessa tecnologia torna as cirurgias minimamente invasivas ainda mais precisas e seguras! Que a tecnologia médica continue oferecendo soluções e diminuindo os riscos de procedimentos que salvam vidas.
Se tiver alguma dúvida sobre esse assunto, pode deixar um comentário!